Escrevi isto em 2020. Quatro anos depois a distância entre Simões e Jardim ainda não foi encurtada. Um abraço à Cláudia e à Violeta. Da Cláudia e da Beatriz. Que dia tão triste este. “ O meu nome também é Cláudia. Também tenho 42 anos. Também tenho uma filha, que fará 8 anos em Março. Também sou da Amadora. Também já entrei sem título de transporte na Vimeca, na CP e no Metropolitano. Mas nasci branca .E isso transporta um privilégio que não escolhi. Para o qual não paguei bilhete. E ainda assim faço essa viagem sem que muita gente pareça importar-se. Reconhecer o privilégio não significa cristaliza-lo. Reconheço e combato-o. Combato-o no sentido que o que separa Jardim de Simões, Beatriz de Violeta são contingências de um à priori não escolhido. Somos duas Cláudias da Amadora, com 42 anos e filhas pequenas. E se fosse eu naquele autocarro? A história era a mesma? Não era. Sabemos bem que não era. Mas continuamos a assobiar para o lado e achar que Portugal não é um país racista e que está tudo muito bem. Continuamos nós os “brancos”. Nós que vivemos no privilégio. Nós que não somos nem negros, nem ciganos. A nós nunca nos doeu na pele. A nós nunca nos espancaram a mãe. Reconhecer um problema é o primeiro passo para o resolver. Já chega de fingir que não se passa nada. Que o caminho seja para diminuir a distância entre Jardim e Simões .“
Um breve momento da conversa boa que tive com a atriz Cláudia Jardim sobre o monstro massificador de ignorância, ódio e repressão. Tudo no podcast "A Beleza das Pequenas Coisas". Boas escutas!
Para todos os haters que andam a espalhar mau viver na caixa de comentários do @jornalexpresso .
Beijos e muito amor.
“Eu sou a chuva que lança a areia do Saara
Sobre os automóveis de Roma
Eu sou a sereia que dança, a destemida Iara
Água e folha da Amazônia
Eu sou a sombra da voz da matriarca da Roma Negra
Você não me pega, você nem chega a me ver
Meu som te cega, careta, quem é você?
Que não sentiu o suingue de Henri Salvador
Que não seguiu o Olodum balançando o Pelô
E que não riu com a risada de Andy Warhol
Que não, que não, e nem disse que não
Eu sou o preto norte-americano forte
Com um brinco de ouro na orelha
Eu sou a flor da primeira música a mais velha
Mais nova espada e seu corte
Eu sou o cheiro dos livros desesperados, sou Gitá gogoya
Seu olho me olha, mas não me pode alcançar
Não tenho escolha, careta, vou descartar
Quem não rezou a novena de Dona Canô
Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor
Quem não amou a elegância sutil de Bobô
Quem não é recôncavo e nem pode ser reconvexo
Eu sou o preto norte-americano forte
Com um brinco de ouro na orelha
Eu sou a flor da primeira música a mais velha
Mais nova espada e seu corte
Eu sou o cheiro dos livros desesperados, sou Gitá gogoya
Seu olho me olha, mas não me pode alcançar
Não tenho escolha, careta, vou descartar
Quem não rezou a novena de Dona Canô
Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor
Quem não amou a elegância sutil de Bobô
Quem não é recôncavo e nem pode ser reconvexo”
Cláudia Jardim é sempre um acontecimento quando sobe a palco. Dona de uma voz que enche um teatro, as suas personagens transbordam com o seu carisma. Há mais de 25 anos que esta atriz e diretora artística faz da companhia Teatro Praga uma utopia a que chama “casa”. A sua história de vida dava um filme, ou uma peça tragicómica, com muitas lágrimas e gargalhadas. Quis ser freira, beijou a irmã Lúcia, foi beijada pela Beatriz Costa e perdeu a mãe no mesmo ano em que nasceu a sua filha.
Cláudia afirma que lhe interessa o teatro e a arte que questiona o mundo, e que o seu atual grande medo é a ascensão da extrema direita. “Imaginemos que cai o governo e o Chega ganha as eleições. Quer dizer que a minha filha, dos 12 aos 16 anos, fase fundamental da formação de uma personalidade, viverá num país fascista. Isso não vai acontecer, não pode!”.
Oiça a conversa no podcast 'A Beleza das Pequenas Coisas, com @bernardo_mendonca , nas plataformas habituais e através do link na bio do @jornalexpresso .
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Fui feliz neste encontro com a rainha desta porra toda: Cláudia Jardim 👑 Houve lágrimas, gargalhadas, poesia, loucura e lucidez, servidas em doses bem generosas, para ouvirem com tempo e coração. Obrigado, querida @cgardens .Até breve, numa varanda escandalosa ou esplanada ousada para continuarmos esta conversa. ❤️ Com a participação especial de @pedrozegrepenim e @diogobento .
A primeira parte deste episódio do podcast “A Beleza das Pequenas Coisas” já foi lançada para o universo.
A segunda parte sai já na manhã deste sábado para acompanhar o café e as torradas☕️. Boas escutas! 🎧💥
📸 @nunofox
🔉 @tenhouminsta